Eles são muitos, mas não podem voar.


Eu tinha dez anos, a novela começava às 22:00 hs, era um sacrifício driblar o rigor do pai e da mãe para poder assistir os capítulos. Naquele ano eu entrava cedo na escola ás 7:00 da manhã. Cresci assistindo bastante TV, eram poucas as alternativas  e ver novela das 22:00 hs era um plus. Os temas eram mais avançados, menos água com açucar, menos melodramáticos. A novela era Saramandaia de Dias Gomes, um texto que flertava com o realismo fantastico.

Decerto que eu não compreendia estas diferenças, detalhes sofisticados, mas me fascinava a mulher prestes a explodir, o homem que soltava formigas pelo nariz, o que cospia o coração pela boca quando lhe acometiam grandes emoções, o lobisomen…e em especial aquele que queria voar. Gibão pôde voar. A música do cearense Ednardo tecia tudo de beleza e  foi determinante para a cena jamais sair da minha memória:

Não temas minha donzela, nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos, mas não podem voar.

Claro que eu não sabia  o que era ditadura, claro que eu não sabia ao menos o que fosse censura, mas minha alma de menino ja intuia que aquilo significava liberdade. E me fascinou o Gibão voar, voar sorrindo e os personagens da cidade o olhando como se fossem todos levados com ele num sonho comum. Voar, a chuva, o frevo, a festa. Que bacana é poder pensar em conjunto nesse tal mundo melhor. Na manhã deste sábado, mais velho, mais calejado, veio a mesma emoção de trinta e três anos atrás, talvez mais carregada, menos doce.

5 comentários
  1. pri disse:

    nossa, parece Bijork, akele clipe dos ursinhos na florest
    abraços

  2. Sonia disse:

    Foi bom lembrar mas foi triste.
    Faltou o David pra poder mostrar.
    Mesmo assim muito legal
    Beijos

  3. Amélia disse:

    Chorei no sabado e agora….

    bjs e obrigada

  4. Tadeu disse:

    Já havia visto essa cena, só que ela ficou muito mais forte agora com a tendo a ditadura como pano de fundo.

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