A eleição de 2018 será realizada. Ela vai acontecer com todas as pompas necessárias à um país democrático. Há uma outra eleição que também ocorrerá nos tribunais, uma como complemento da outra. Na falta de uma eleição haverão duas. A hiperdemocracia.
Dois episódios que ocorreram ontem, confirmam esse duplo pleito em 2018.
No final da tarde ficou estipulado pelo TRF4 que Lula será julgado em segunda instância no dia 24 de janeiro. A decisão tem requintes e prenúncios. Marisa Leticia, ex companheira de Lula, sofreu um AVC, e logo após faleceu, no dia 24 de janeiro de 2016, o TRF4 quer comemorar a data. Condenar Lula no dia de aniversário da morte de sua esposa é o escárnio perfeito para quem se move pelo ódio e pela abjeção.
Mas temos outro detalhe que reafirma a clara intenção de impedimento da candidatura Lula: a velocidade incomum que o julgamento foi agendado, furando todas as filas e contrariando todo o histórico moroso de nosso judiciário. O julgamento de Lula em 2018 é o primeiro turno da eleição presidencial.
O outro episódio, mais obscuro, e envolvendo dois personagens menos populares, confirma o formato da eleição 2018 em dois patamares, o voto popular e o cadafalso dos magistrados. Também no dia de ontem, o TRE RJ tornou inelegível o ex Prefeito do RJ, Eduardo Paes e o Deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ), que foi o candidato apoiado por Paes na última eleição a Prefeito do Rio de Janeiro, por usarem o “Plano Estratégico Visão Rio 500”, contratado e pago pelo município, como plano de governo na campanha de Pedro Paulo.
Vejam, não entro no mérito das decisões jurídicas, o ponto não é esse, não me cabe separar o joio do trigo no âmbito das leis. O olhar se fixa na seletividade, na celeridade e na concatenação dos fatos. Gostar ou não de quem tá sendo julgado e daqueles que estão sendo estranhamente esquecidos, é coisa da política partidária. Até onde sei, preferência partidária é coisa de cidadão comum, não de magistrados, quero crer.
O julgamento de Lula virou espetáculo com desfecho pré concebido, é um ponto fora da curva, a decisão sobre o impedimento de Paes e Pedro Paulo, soa mais banal e ordinária, até pelo peso político dos envolvidos, mas ambas obedecem a uma mesma lógica.
Todos as movimentações políticas desde o impeachment, tiveram o protagonismo do judiciário. Não dá pra ser ingênuo e pensar que isso vai parar no ano da eleição presidencial. Além das prévias, das convenções partidárias, da campanha nas ruas e veículos de comunicação, as decisões colegiadas e monocráticas dos magistrados podem como nunca, colocar ou retirar um voto da urna em 2018.
Sei que não é novidade essa presença do Judiciário na vida política e nas eleições, e tampouco defendo a conivência, a leniência e o atropelo das leis, ao contrário. Na máxima de Montesquieu, o judiciário é o poder de equilíbrio, mas o que contradiz esse enunciado, é o excesso de presença, a seletividade e os julgamentos no afogadilho que patrocinam o desequilíbrio nas decisões. Hiperdemocracia, hipodemocracia, pós democracia, escolham diretamente, ao menos o rótulo.