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Arquivo mensal: outubro 2022

Em 03 de fevereiro de 2017, Marisa Letícia Casa da Silva faleceu. Ela foi a companheira de vida e grande aliada de Luiz Ignácio Lula da Silva em sua trajetória política no Sindicato e no Partido dos Trabalhadores.

Um ano antes, Marisa foi acusada pela Operação Lavajato por corrupção passiva e teve a vida defenestrada, sendo uma das vítimas do lawfare, da campanha de destruição de Lula e família.

A declaração de Lula à época, expressa bem a injustiça e a violência sofridas por Marisa, que causaram profunda tristeza e precipitaram sua morte:

“Marisa morreu triste porque a canalhice, a leviandade e a maldade que fizeram com ela… Quero provar que os facínoras que levantaram leviandades contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas”.

Ontem, Lula foi eleito pela terceira vez Presidente da República, depois de ser preso e impedido de disputar a eleição em 2018, numa patranha armada por Sérgio Moro (lavajatismo), mídia e a direita.

Lula deu a volta por cima, provou inocência, derrubou todas as acusações, recuperou os direitos políticos, se candidatou, rodou o Brasil e ,enfim, se elegeu. Dessa feita, infelizmente, Marisa Letícia nao estava junto.

Fica aqui a homenagem à minha conterrânea (ela nasceu em São Bernardo do Campo) e grande mulher. A eleição de ontem é parte do seu legado histórico.

Marisa Letícia presente!

Milton faz 80 anos hoje. Eu poderia usar um monte de palavras para expressar a importância do carioca mineiro na minha biografia musical…

…prefiro ser menos superlativo…

…em 1967, Milton e Fernando Brandt escreveram uma canção que cabe perfeitamente nesse Outubro de 2022.

Outubro dos 80 anos de Milton, outubro de decisões difíceis, outubro de nossa esperança, outubro desse inverno que teima em nao ir embora:

“Tanta gente no meu rumo
Mas eu sempre vou só
Nessa terra desse jeito
Já não sei viver
Deixo tudo deixo nada
Só do tempo eu não posso me livrar
E ele corre para ter meu dia de morrer
Mas se eu tiro do lamento um novo canto
Outra vida vai nascer
Vou achar um novo amor
Vou morrer só quando for
A jogar o meu braço no mundo
Fazer meu outubro de homem
Matar com amor essa dor”

Parabéns, Milton Nascimento, que o seus oitenta outubros iluminem o nosso outubro/2022, o presente mais raro você já nos deu em forma de canção.

Outubro.

Acredito que não haja mais dúvidas de que a área da leitura e do livro é fundamental na luta contra a aliança entre o neofascismo e o ultraliberalismo.

Entre outras coisas, porque é através da confluência entre a leitura e o livro, que se apresenta uma grande oportunidade de integração entre educação e cultura. Domínios que historicamente se apresentam como os pilares da luta contra o obscurantismo.

O Governo Bolsonaro não mediu esforços para fustigar, sucatear, extinguir e destruir, tanto material, como simblicamente, as estruturas e as políticas do livro e leitura, construídas durante décadas de luta.

É importante não esquecer que a derrocada foi pavimentada no Governo Temer, dentro do seu projeto maldito chamado Ponte para o Futuro.

A tal ponte nos legou o teto de gastos — que rebaixou de forma contundente o orçamento da área social, cultura e educação inclusos —, bem como as reformas trabalhista e da previdência e o sucateamento dos serviços públicos. Tudo isso aprofundado pelo Governo Bolsonaro, que nos mostrou na prática o que é o aliança entre o neofascismo e o ultraliberalismo.

Era óbvio que a tal Ponte para o Futuro só teria os desdobramentos necessários aos interesses do capital, num ambiente autoritário e excludente, em que educação e cultura e, por consequência, a leitura e o livro, são os alvos principais.

É importante lembrar que o ultraliberalismo não carrega em seus projetos e propósitos, políticas avançadas e democráticas para o livro e leitura, e que essa informação tem tudo a ver com a sua aliança com o neofascismo.

O problema é que Bolsonaro, que de início era palatável para a aliança, extrapolou, pela grosseria, pela violência, pelo negacionismo, pelo despudor com que se apropria da máquina e do orçamento públicos, pelo desejo evidente de instaurar uma autocracia, pelo desrespeito às instituições, os limites da tarefa lhe foi conferida.

O capitão reformado se transformou num empecilho e inimigo conjuntural para parte das forças que o conduziram ao poder em 2018, ato contínuo do golpe de 2016. Aquele que foi muito útil, se tranformou num estorvo.

Nesse momento, uma semana antes do pleito que definirá quem será o presidente a partir janeiro de 2023, o mais importante é aglutinar e mover esforços para barrar Jair Bolsonaro e eleger Luis Ignácio Lula da Silva no Governo Federal e Fernando Haddad para o governo de SP.

Lula é a única alternativa diante de um projeto de violência e destruição, no qual simplesmente não há lugar para a leitura e o livro.

É importante frisar: eleger Lula dia 30/10/2022, é fundamental para que nós, profissionais e militantes do livro e leitura, possamos continuar a existir como agentes ativos na luta pelos avanços da área. Sobreviver para poder enfrentar nossos próprios embates e contradições e avançar. Agora é hora de se unir para tentar garantir existência e reconstruir relevância.

Vamos unidos, leitores, escritores, bibliotecários, editores, livreiros, mediadores de leitura de diversas origens, educadores, professores, agitadores da palavra. Gente que se une sonora e silenciosamente para tentar construir um país menos excludente e desigual. A despeito das diferenças, temos que cumprir nossa tarefa histórica e compreender que esse é o primeiro passo de um caminho, que novamente, será muito longo e repleto de percalços.

Dedico esse pequeno texto ao querido e saudoso Chico De Paula, que tanto lutou para a leitura e para todo e qualquer movimento e energia que tivessem como objetivos os direitos humanos e a construção do socialismo. Com toda certeza o bravo e doce maraenhense estaria ao nosso lado.

Camarada, você faz muita falta e essa luta é tambem em homenagem à sua memória.

Eu sou zero esotérico, menos 10 religioso e um desconfiado convicto. No entanto, uma música que vem nos momentos de crise e angústia na minha memória, é Nova Era do Gilberto Gil, canção do momento macrobiótico, bicho grilo do compositor baiano:

“Falam tanto numa nova era
Quase esquecem do eterno é”

Eu que sempre fui do lado de lá, bem longe do namastê, tento entender o que os versos de Nova Era me trazem:

“Novo tempo sempre se inaugura
A cada instante que você viver
O que foi já era, e não há era
Por mais nova que possa trazer de volta
O tempo que você perdeu, perdeu, não volta”

Vai ver é só a melodia. Os materialistas também se inebriam.

As canções, sempre elas.

As andanças de Debbie Harry e Chris Stein pelo Bronx e Brooklyn em 1978, geraram no casal formador da banda Blondie, uma admiração genuína pela energia e criatividade da nascente cena hip hop, nos seus ritmos e colagens, nas rimas cortantes e improvisadas, na dança e no visual dos grafiteiros.

A sensibilidade e o olhar nada colonizador da dupla anteviu a explosão do rap, orientados pela amizade com dois personagens centrais da cena hip hop: o dj Grandmaster Flash e o grafiteiro Fab Five Freddy, os guias de Debbie e Chris no mundo dos quatro elementos.

O encontro gerou o hit Rapture em 1980. O single explodiu em vendas, o Blondie ajudou a colocar o universo do hip hop no mainstream. Mas nada disso funcionaria se não fosse a amizade do casal Debbie/Chris (a dupla criativa e amorosa mais longeva da história da musica pop) com os potentes e seminais Gradmaster e Fab Five.

Como bem diz a letra de Rapture pagando tributo para a dupla de amigos:

“Fab Five Freddy told me everybody’s fly
DJ spinning, I said: My my
Flash is fast flash is cool”

Debbie Harry, Chris Stein e o Blondie nasceram musicalmente com a cabeça nos anos 60, no meio da furia punk de New York dos anos 70 e compelidos pelo poder inebriante da cena disco que colocou o mundo para dançar. Daí, eles criaram a sua coleção de canções.

Rapture, o single e o videoclip (um dos marcos da MTV), foi o auge do jorro criativo criado por essa mistura, o single não tirou o hip hop do gueto, como muitos gostam de rotular, mas trouxe para o mainstream uma estética que mudou da produção músical e do comportamento dos anos seguintes.

Na real, se formos olhar no lugar profundo da artesania dessa canção, encontraremos a amizade e o olhar generoso, não usurpador como a linha tênue de integração de universos distintos. Não seria tão influente e exemplar se não fosse fruto da amizade entre Debbie, Chris, Fab e Grandmaster. Andar junto é sempre melhor.

É muito reconfortante poder ouvir a canção Rapture, retrato de um momento de explosão criativa, de beleza, da generosidade mútua e amizade, para adoçar o difícil ano de 2022.

Falar mal da segunda feira é um clichê inevitável. O dia de “ir trabalhar”, de ir “atrás de emprego”, de “(re)começar. O intervalo entre o domingo à noite e a manhã de segunda é o tempo da imposições inegociáveis.

Ontem, domingo, foi o aniversário de John Lennon morto em 1980. Ele faria 82 anos. E o que Lennon tem a ver com a segunda feira?

“A day in the life” é uma canção de Lennon e McCartney do álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.

Resultado de duas canções inacabadas da dupla, Paul contribui com excertos, mas é John Lennon que a conduz como uma leitura do jornal como guia, com relevo para a morte de Tara Browne, herdeiro milionário neto de Edward Cecil Guiness, o magnata da Cerveja Guiness. Tara era um bon vivant, amigo da classe artística, que morreu num acidente de carro na madrugada londrina.

As notícias nos jornais.

Lennon e McCartney não escreveram essa canção para retratar uma segunda feira de manhã, mas há nela um verso que escancara o desejo de fuga das infelicidades da segunda feira:

“Found my coat and grabbed my hat
Made the bus in seconds flat
Found my way upstairs and had a smoke
And somebody spoke, and I went into a dream
(Aah, aah, aah, aah)”

Fazemos todas as coisas prosaicas na segunda feira, mas tudo que queremos é embarcar num sonho que nos leve daqui.

Eu mesmo, escrevi esse texto meio sem nexo pra diluir a segunda.

Café…

No último dia 05 de outubro a Constituição de 1988 completou 34 anos. Há muito o que comemorar. Em 1986, aos 20 anos, elegi o Professor Florestan Fernandes como Deputado Constituinte, momento inesquecível e poderoso da política na minha vida.

A Constituição de 1988 instituiu a Saúde e a Educação como dever do Estado extendido a todas as pessoas, importantes direitos trabalhistas como abono, férias e folgas remuneradas, décimo terceiro, jornada de 44 horas, direito à greve.

Os direitos sociais como liberdade de expressão, direito da criança e adolescente, proibição da tortura, voto do analfabeto, igualdade de gênero, racismo como crime inafiançável, entre outros avanços importantes para a sociedade.

Junto com o sol de primavera que finalmente chegou, tive hoje o compromisso de dar aula das 09 às 18h, na Pós Livros do Instituto Vera Cruz. Ciclo das políticas públicas conceitos e práticas foi o tema. Assunto candente nesse contexto histórico.

O mote dos 34 anos da Constituição Federal de 1988, caiu como luva. O golpe de 2016, a prisão de Lula, o avanço do bolsonarismo e os varios atropelos antidemocráticos que vêm sendo impostos à sociedade brasileira nos últimos tempos , têm como um dos principais objetivos destruir os avanços contidos na CF 88.

O que parecia um assunto pesado, sobretudo pelo ambiente eleitoral, se transformou numa aula participativa e empolgante que abriu diversos debates.

Aula em que as alunas são as protagonistas é uma vitória para o professor. Aula em que você como professor tem que se esforçar para buscar argumentos, é oportunidade franca e aberta para aprender com as alunas.

E foi bastante interessante constatar mais uma vez, o quanto o debate sobre as políticas públicas é transversal aos diversos assuntos que mobilizam corações e mentes.

Agradeço à atriz, militante do livro e leitura e integrante do Conselho do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca, Sophia Castellano pela excelente participação na segunda parte da aula, nos trazendo o relato da sua experiência na execução e no acompanhamento das políticas públicas na cidade de São Paulo.

Foi um belo desfecho para uma semana difícil.