Militância política se dá na prática e não dentro de uma eterna teoria que adia a ação até o fenômeno se extinguir.
Não é o caso de desprezar a reflexão e agir desordenadamente, mas se formos ponderar sobre tudo que pode “dar errado” ou “pode não dar certo” antes de tomarmos uma atitude, o mundo seguirá interrompido nas nossas minicertezas.
Nos últimos dias houve um debate surdo mudo entre duas correntes da esquerda no mundo virtual, o assunto é a greve/locaute dos caminhoneiros:
1 – para um grupo o locaute (greve?) é um movimento de direita capitaneado por empresários e que na fatia trabalhadora prevalecem os fascistas, bolsonaristas, etc. Esse grupo é híbrido quanto à posição que deve ser tomada, que vai desde “não temos nada a ver com isso é coisa de fascista” até o desejo de articular um movimento paralelo genuinamente esquerdista, para fazer frente à dupla Temer/Parente;
2 – para um outro grupo o movimento é legítimo (apesar dos interesses dos patrões atrelados) e a esquerda deve apoiar ou participar efetivamente da greve (locaute?) apesar da prevalência de conservadores dentre os caminhoneiros, o principal argumento é que a conjuntura muito específica coloca a direita e a esquerda diante de um confronto em relação à corrosão neoliberal provocada pelo governo Temer.
Desde quarta passada com o encadeamento de fatos e a reação dos diversos atores (trabalhadores, governo, congresso, etc) esses dois grupos foram variando seus apoios e resistências diante das contradições produzidas. Os entusiasmados, os céticos e os inativos foram mudando de posição.
A despeito das convicções e razões de cada parte, o que ficou claro nessa semana de crise é que a inatividade é o pior caminho.
Estamos impotentes diante das transformações do mundo do trabalho, não há clareza de como lidar com a política de precarização e o aumento da exploração que se apresenta como caminho sem volta no pós quebradeira de 2008. É preciso construir uma agenda clara sobre isso, independente de eleição e outros ritos institucionais, há uma necessidade de uma nova postura.
Na batalha das narrativas, a palavra “disputa” foi ironizada pelos céticos, apocalipticos e inativistas, sob o argumento de que não se disputa “movimento fascista”. Em primeiro lugar, disputa é algo indissociável da luta de classes, ela se dá nas condições mais diversas, isso faz parte da essência da luta à esquerda. Quando se fala em disputa, ela não está circunscrita a esse movimento de caminhoneiros, mas a toda relação capital/trabalho, com as contradições e os desafios inerentes.
Fazer frente à precarização do trabalho que se aprofundou nas últimas décadas, tendo na destruição da CLT um momento emblemático, é tarefa prioritária e inadiável da esquerda e qualquer oportunidade que envolva precarizados.
A despeito dos resultados das negociações entre governo e trabalhadores e empresários nesse affair diesel Petrobras, fica a expectativa de que as centrais sindicais e os sindicatos formulem uma ação conjunta para fazer frente à corrosão das condições de trabalho e o impacto que o pacote de políticas neoliberais, opera sobre elas.
É uma pauta que converge os interesses de milhões de trabalhadores e desempregados, é uma multitarefa que exige esforço de vários segmentos para além dos sindicatos.
Quanto aos céticos, apocalípticos e inativos eles continuarão nas suas poltronas esperando as condições ideais.