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Arquivo mensal: outubro 2013

O “Procure Saber” não é exatamente uma novidade na cena culturete brasileira. Sim, cena culterete, o que podemos chamar de “vida marrom” do cenário cultural, o penduricalho, o inútil, o superflúo. O mundo das falsas polêmicas, das declarações bombásticas, dos conluios do “outro”.

O “Procure Saber” faz parte desse universo, em dado momento seus membros eram apenas bacanas e antenados, os reis, dizem que hoje são um produto ultrapassado, mas com inegável lastro, e que ainda alimenta (muito) o que pode ser “novo”.  Quem é o ultrapassado?

O fato de serem rotulados de  “velhos” e de fazer parte dessa brodagem citada, não os torna melhores ou piores, eles apenas jogaram o jogo. Hoje são como nobres envelhecidos na corte, mantém seus privilégios.

Ao tentar proibir suas biografias eles continuam sendo performáticos, uma performance melancólica, mas performance. E essa performance gera notícias, comentários, desdobramentos, gera grana, esse post (não tô ganhando grana, claro) e, ironicamente, os torna menos velhos, ainda que melancólicos, mas com certeza menos velhos, pois voltam (continuam) a ser notícia.

O “Procure Saber” faz o papel de vilão nesse momento, existem muitos que ainda não adquiriram o direito de serem vilões, por falta de fichada corrida, de lastro, de história ou por falta de relevância mesmo.

A cena culterete precisa de vilões, assim como precisa de críticos mordazes desses vilões, todo mundo tem seu papel marcado. Não há ruptura, quando muito birrinhas. Não importam os nomes, eles se revezam.

Claro que não é todo combinado, nem precisa ser, cada ator conhece muito bem seu próximo ato quando a peça é repetida ano após ano, se torna praticamente um ato mecânico, o que fulano diz vira notícia e forma uma polêmica performática e cínica.

A cena culterete é assim: autoreferente, repetitiva e ninguém nunca quer largar o osso.

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You’re going to reap just what you sow

Lou Reed

Foram centenas de banda influenciadas por Lou Reed e The Velvet Underground, direta ou indiretamente. EM 1967 no lançamento do primeiro álbum, o VU chegou para contrariar com ruídos e letras barra pesada o mundo da flower power, do desbunde, do rock baseado no blues e do pop ensolarado. Não apontaram o fim do sonho, apenas disseram que ele poderia ser também um pesadelo.

Não é fácil cantar o escuro, o mal habitado, pode ter um preço alto.

Na carreira solo, o garoto do Brooklin alternou genialidades com momentos esquecíveis (o último foi a conversa mole que armou com o Metallica). A industria estipula seu preço e isso independe do lastro e do alcance.

Lou Reed pagou todos esses pedágios: dos excessos (amor, drogas e experimentos musicais), do sucesso (assédio e reverência) e da vida (intensa, com uma conta final que chegou de mansinho).

Não existe biografia perfeita no mundo do rock and rol, nem dias perfeitos, quando muito canções que falam de dias perfeitos.

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God only knows what I’d be without you

Beach Boys

 

Desde sempre aprendi que a música pop preenche as brechas deixadas pela dureza da vida. Não com aquele “conteúdo” da alta cultura, ou de todas essas coisas que, por suposto, elevam o espírito.

A música pop é esse descompromisso de sorrir à toa, de não dar explicações, de sair sem rumo, ganhar o dia, entrar na onda de uma alegria boba.

Enfim, música pop é a trilha daquele momento sem maiores explicações, de respiro, momentos como esse de escrever um post sem sentido, apenas para atrair alguma alegria.

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Fiz o gol, pixotada do Junior. Rei (diziam). O estádio era festa só, a fuzarca fazendo o fundo até o fim, primeiro jogo, metade da saga se foi, galo forte vingador.

E o tempo de espera, a falação das rádios, as manchetes, faltava pouco.

Maracanã, sempre bonito… cheio…

Entrei na área, rapidinho na primeira oportunidade – pouco depois do Nunes abrir o placar para eles, nós já estávamos atrás – o chute saiu mascado na perna do Manguito e enganou o Raul. Gol. Quase, quase o título (ainda não).

A bola zunia pra cá e pra lá. A pegada era forte, jogo bom de jogar. Tinha gente muito boa do outro lado. Bola na frente da área, Junior bateu e a ela parou no pé “certo”, João Leite caiu e lá se foi a bola no ângulo, o Zico. Não, não tinha acabado.

A fisgada, aquela, ninguém tocou em mim, não ali, a dor não tava no gibi, doeu muito. Um acúmulo de pancadas, desde o dente de leite, vários “Morais” passaram pela minha vida. Era um barulho só, a perna doía e tudo ficava lento. Nunca senti igual, mas não faltava vontade.

Camisas vermelhas e pretas sobravam e a bola escapava, fácil. Eles precisavam do título, não tinham um Brasileiro.

E tem a hora que tudo para, tudo silencia, e são apenas as camisas de tons diferentes correndo… a bola não parava no pé.

Não, não é nem um pouco suave uma multidão inteira gritando:

– Bixadôooo, bixadôooo – e bateu no ouvido, eco, juntou com a dor e a lembrança da fisgada. Fui, precisava, buscar o empate, nós fomos. Bixado. A dor.

O Aragão corria junto. Camisa preta, e a respiração difícil de juiz, vi o Cerezzo, olhos vidrados, falando no ouvido dele.

O início da década, a primeira decisão dos anos 80, claro que eu não fiz essa relação, claro que na cabeça da gente era, antes de tudo, a primeira decisão depois de 1977, pênaltis, Mineirão, perda do título, uma injustiça.

Perdia a bola e o tempo da bola, ela rolava na perna dura e sem movimento, queria alcançar, a dor, não adianta, não tem como sair, o Procópio já tinha substituído os dois. Dor.

O Junior  (sempre ele) lançou uma bola para o Nunes na direita, eu vi de longe, tinha uma multidão de cabeças na frente, Adílio, Jorge Valença, Chicão…Nunes pegou mal na bola. Maravilha.

E o grito insistente de “bixado” no Maracanã, naquele velho Maracanã, o gigante, que punha o povo para nos olhar de frente na geral. Podia ouvir um, dois, três caras gritando: bixadooo! Marcação cerrada.

Nó na perna, ela puxava pra trás, pesava. Não tem palavra para descrever essas coisas. Só consigo pensar na bola andando de cá pra lá.

Palhinha tenta um drible, topa na marcação, a bola volta. Ele insiste. Toca para o Eder, alça na área forte como sempre, a bola desce, vi a sombra branca chegando, Marinho sobe, vacila…

…por um instante, rápido, aquilo congela, seria a hora?

…caiu no pé direito, doeu… pé direito…desceu lisa, toquei, vi que o Raul tava na bola, ele tocou nela, rolou pra dentro. O título era nosso (ainda não).

Era o segundo, o terceiro contando as duas partidas.

Fui correndo ali, no velho Maracanã, atrás do gol, fotógrafos, toda aquela imprensa, a torcida, os cariocas olhando para mim, todos eles silenciosos.  01 de Junho de 1980, naquele momento o título era nosso (por ora), pude gritar, gritar:

– Eu não tô bixado não, eu não to bixado, não – o braço esquerdo erguido,  a marca,  como os black panthers.

Faltava muito pouco…

reinaldo

E é esse Mário (de Andrade) que faz 120 anos, difícil de ser contido em pouco tempo e espaço. Pois ele não ficou satisfeito com pouco espaço. Mario ousou na “busca” incansável de novas referências e de referências (nossas) do mundo que o mundo (o nosso e o dos outros) ignorava ou desconhecia. Mario (de Andrade) fez (sua) nossa São Paulo mudar para todos. Música, poesia, folclore, Brasil, política pública, etnografias. Mário fez muito, fez pouco, inventou, copiou, trezentos ou menos? Mario Preto e Branco. E da leitura, a paixão nossa, Mário fez a biblioteca andar num ônibus na difícil São Paulo, e não inventou nada além do que a si mesmo.

Foi bastante, não foi tudo.

“Mas um dia afinal eu toparei comigo…”

mario