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Arquivo mensal: julho 2011

Muitas vezes coloco a música como protagonista e eu fico de fundo, inverto o fundo musical. E penso que a música pode dar respostas e cobrir ausências. Inverter a prática de usar a música para passar o tempo e para complementar algo mais importante.

A importância ou fuga passa a ter nome, duração, compositor e intérprete. Usar a música é ter um interlocutor que fala bonito, que modula, que faz chorar, sair pulando ou gritar o primal com louvor. Música para descobrir todo dia e receber com piscada, desprezo, surpresa, aversão (que pode ser logo transformada em atração), música para falar mal, lembrar, esquecer e ignorar algo ruim na vida.

Dar status a um trecho de piano, um solo curto de guitarra ou a um som de baixo que se percebe pelo pulsar. Escrever sobre, descrever a música, já é em si, um sacrilégio, ela necessita estar em corpo presente. Música pode nos tornar um ET, excêntrico, isolado, por gostar de coisas estranhas, obscuras e passar a imagem de elitista.

Mas em algum momento, naquele dia bacana, você encontra alguém que gosta de uma música que sempre achou que só você e o cabra que a compôs/gravou gostavam. Afinidade eletiva. Música é pano de fundo, e tal qual o pano pode cobrir a cena e dar a cor que ela merece.

E claro, não dá para falar de música sem ouvir…

“So…
Make your mark for your friends to see
But when you need more than company
Don’t go to strangers, darling, come to me”
(Redd Evans/Arthur Kent/Dave Mann)
Amy Winehouse
As catástrofes, as perdas, deixam as pessoas confusas. O que temos de mais básico se perde ou se mistura a sentimentos confusos. Falamos demais e buscamos explicações estranhas que não cabem no mais evidente, que não funcionam na luz e que muitas vezes se escondem numa escuridão inexplicável e tumultuada.

A tragédia da Noruega, onde um imbecil destruiu noventa e duas vidas em um balneário e a morte da cantora de soul/pop Amy Winehouse não podem ser misturadas. Mas acontecem concomitantes e criam uma triste analogia.

O moralismo preguiçoso e vulgar, julga a cantora culpada pela morte prematura, 27 anos. A comparação com Hendrix, Brian Jones, Joplin, Marc Bolan, Kurt Cobain reforça mais um clichê da história. Only good die young.

O talento se esvai, deixa o vazio, o culto à imagem e ao estilo, a música passa ser a trilha sonora póstuma de uma vida acelerada e colocada na jaula da excentricidade, para ser pichada ou cultuada com o mesmo sentido raso.

Era uma vida de menina. Amy tinha estatura das grandes vozes femininas do soul. Uma imagem longe das gostosonas do R&B contemporâneo e pop anglo saxão. Vida de excessos, como a de algumas divas, de exposição midiática, fácil de ser julgada à distância. Como tudo o é à distância. Não fale do “mal” se nunca ao menos chegou perto.

Na Noruega a bestialidade solta tenta resolver com a cabeça de certezas e esquemas as mazelas do seu mundo criado e distorcido. Não, agora não é um muçulmano com o nome cheio de consoantes que se encontram, mas um norueguês que tem o nome com as mesmas consoantes estranhas. Anders Behring Breivik. Ficou tudo mais difícil de catalogar.

Como enquadrar dentro da lógica perversa, um branco de olhos azuis e fora do “eixo do mal” como um terrorista? A morte de jovens no paraíso é um desfecho irônico para um mundo construído para ser dual, bem e mal, certo e errado. De que lado?

Mais de noventa jovens alvejados por um doente e uma jovem morta por uma lógica doente. Fim de semana triste. São pobres as metáforas, são tristes as frases para apaziguar, são breves as dores de quem olha de longe, mas o mundo fica de forma incontornável, muito mais vazio.

E tem a música que te pega de madrugada. Aquela que te vê desprevenido, chega, causa um sentimento inexplicável.

Os hits perfeitos da madrugada.

Música pop, música romântica, música óbvia, de lembrar de namorada ou de inventar namorada.

O recurso para não desligar o rádio, ouvir mais um pouco (quando se ouvia rádio de madrugada). Garanto que todo mundo tem a sua.

Funciona assim: enquanto o sono não chega, não há brilho superior a mostrar. A minha é redundante. Uma melodia grudenta e uma letra “o mundo poderia ficar sem ela”.

É um hit de 1975, de um grupo inglês que para muitos só fez essa música, outros tantos nem sabem que ela é desse grupo inglês. No entanto ela deve ter “presenciado” e musicado muitas histórias.

Vou tentar dormir agora…

I”m not in love

Desde 1989 Ricardo Teixeira é o imperador da CBF. O futebol brasileiro, nada diferente do restante do mundo, vive controlado por um grupo de pessoas obscuras e mal cheirosas. Ricardo Teixeira foi um subproduto criado por João Havelange, o grão vizir da escuridão futebolística. Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, os Estaduais são “organizados” dentro de uma lógica perversa que só privilegia minorias e faz dinheiro para as cartas marcadas.  Os clubes brasileiros quase que na totalidade são reféns passivos do esquema montado por Teixeira e os presidentes das federações estaduais. A Seleção Brasileira é a cereja, a cara cereja do bolo, a vitrine expositora das nossas commodities em forma de atletas.

Ricardo Teixeira, o intocável, é pluripartidário, sempre ameaçado, mas nunca tem seu poder alterado por nenhum Governo. E a discussão paira sempre sob a “máxima” de que o futebol é um negócio privado e do contra-argumento de que o futebol é um patrimônio nacional. Ambos os lados rasos e que esvaziam qualquer discussão mais acurada. Ricardo, o longevo, passou por Collor, Itamar, duas vezes FHC, duas vezes Lula, agora dizem que Dilma não o recebe, acompanhemos. Teixeira  falou em cagar na Revista Piauí, literalmente ele vem cagando no futebol há muitos anos. Mas por que Teixeira ainda não caiu?

As respostas são várias e muitas vezes contraditórias. O futebol é organizado e chefiado no mundo, como disse acima, por figuras obscuras. Há transparência no futebol argentino, no inglês, no continente africano, o que falar do futebol espanhol e italiano? Sílvio Berlusconi é o exemplo cru desse obscurantismo. E o que dizer de Josef  Blatter? Beckenbauer, Platini, o que estes “bons moços” fazem de prático e substancial para questionar o “esquema do jogo”? Não existe referência positiva para o futebol no mundo inteiro, mesmo porque o mecanismo montado não aceita modelos positivos. As referências positivas se misturam ao denso lamaçal. Relativismo? Não creio, é só olhar de perto.

Andrew Jennings, jornalista investigativo inglês, autor de dois livros onde chafurda a FIFA e seus asseclas, afirmou em entrevista à Carta Capital em 10/05/2011:

“CC: Havelange chega e traz Ricardo Teixeira. Com qual resultado?
AJ: Um boom de corrupção. A imprensa suíça escreveu que Havelange e Teixeira embolsaram a maior parte das propinas. No decorrer da transmissão do programa Panorama, da BBC, perguntei em três ocasiões a Sepp Blatter o que ele sabia sobre as propinas embolsadas por Havelange e ele sempre ficou calado. Pedi também informações de uma específica propina, mas também neste caso Blatter fez cena muda.

CC: De qual propina se tratava?
AJ: De um milhão de francos suíços que deveriam acabar nos bolsos de Havelange. Por um erro foram depositados numa conta da FIFA, provocando o pânico entre os dirigentes honestos da organização. Posso garantir que havia três pessoas numa sala da FIFA quando chegou aquele pagamento: Sepp Blatter e outros dois altos dirigentes. Falei com estes, que me confirmaram que o destinatário da propina era Havelange. Um dos dois entregou uma declaração oficial e assinada aos advogados da BBC, na qual afirmava que, em caso de processo por parte da FIFA contra mim e a BBC, ele compareceria no tribunal para confirmar que o pagamento era para Havelange. O mesmo, porém, pediu para não ser citado na reportagem que foi divulgada pela BBC, e que qualquer um pode apreciar na internet.

CC: O pagamento teria sido feito por quem?
AJ: Pela ISL, no início de 1998.

CC: E o que há em relação a Teixeira?
AJ: Bastaria olhar os documentos da acusação criminal depositados à margem do processo de Zug. Em relação aos depósitos feitos pela ISL, há um para a Renford Investment Ltd, sociedade controlada por Havelange e Teixeira.”

Duvido que o jornalista tenha levantado estas informações para um exercício de ficção, e estas denuncias vão se juntar a outras tantas acumuladas nestes anos de desmandos de Havelanges, Blatters e Teixeiras. O nó da questão são os interesses atrelados aos domínios desses senhores, há vontade política e jurídica para tirá-los de circulação?  Se existe, de onde vem?

No embalo das derrotas e vitórias da seleção as críticas e os humores são dirigidos aos jogadores e aos técnicos da vez. A  Rede Globo monopoliza as transmissões e é através da voz constante de seu desastrado animador de auditório, Galvão Bueno, que o tentáculo poderoso da comunicação traduz em teorias estapafúrdias e opiniões cheias de interesses diretos no mercado dos jogadores seus verdadeiros interesses. Assim ajuda a manipular e vulgarizar o esporte mais popular do povo brasileiro. A imprensa que eventualmente usa a grife de alguns jornalistas “franco atiradores” para questionar e atacar as mazelas, no final das contas é completamente convivente com o esquema quando assunto é grana. Esquizofrênia?

Irônico é o fato das pessoas se voltarem justamente contra o salário dos jogadores, peça fundamental para o desenvolvimento do jogo, que são usados  para lucros de terceiros tanto em relação ã transação dos seus passes, como na exploração de sua imagem. Mas os altos salários de uma minoria são sempre vistos como o vilão de uma história que é muito mais complexa. Os conglomerados de equipamentos esportivos, as empresas de comunicação, outros tantos poderes que não mostram a cara, ganham pouco? O que incomoda é o salário da mão de obra, sendo que todas as outras peças do negócio do futebol o encaram como… negócio?

Os jogadores saltam de uma infância na sua média pobre e de um processo educacional precarizado (e não só os muito pobres são produtos desse)  para um estrelato instantâneo, totalmente despreparados para conviver com as feras dos interesses milionários.  Podemos contar nos dedos os jogadores que se destacaram pela consciência e clareza do que esta em jogo no mundo do futebol: Afonsinho , Sócrates, Vladimir… sem contar os tantos que poderiam falar mais e se posicionar mais, mas que se calam no conforto da conivência. Além do mais, alienação é privilégio de jogador de futebol?

Todos os percalços citados recheiam as discussões desse momento pré-Copa do Mundo 2014. E o recheio ideológico permeia tudo. As palavras de ordem: o Brasil de Dilma não esta preparado para receber uma Copa, o caos é trombeteado, todos os investimentos e processos de licitação e realização das obras necessárias já são carimbados “a priori” como farra da coisa pública. Há que se separar a gritaria dos “fazedores de apocalipse” da real crítica ao trato da coisa pública. Não dá pra acusar de antemão, por outro lado não dá para aceitar a entrega de polpudos valores à administração de Ricardo Teixeira, como condutor da Copa no Brasil.

Fica a pergunta: há interesse em tirar Ricardo Teixeira e patota do jogo? Ou será que a discussão novamente vai se restringir ao nome que substituirá (se for o caso) o Mano Menezes?

O álbum Pet Sounds, 1966, obra prima dos Beach Boys. Brian Wilson seu mentor e condutor.

O registro que foi diversas vezes apontado por críticos, revistas especializadas e por outros artistas como o mais influente da  música pop.

Não foram poucas as vezes que o compararam a Sargent Peppers dos Beatles.

Uns dizem que Lennon & Macca se inspiraram nas idéias de Brian Wilson.  O próprio Wilson confirma a inspiração em “Rubber Soul” dos Beatles para forjar e registrar ” Pet Sounds”.

Em Terra de Gigantes, não há porque procurar vencedores e vencidos.

Aquela segunda metade da década de 60 do século passado, estava fornida de idéias e experimentos interessantes. Ácidos, sons, mudanças comportamentais, estéticas e políticas.

Os Beach Boys nos ajudam a  localizar bem este momento. Pet Sounds, o álbum, é o rebento de orquestrações, instrumentos inusitados, belas melodias e harmônias em 13 canções.

As idéias dentro desse conjunto de canções podem ser apontadas como pilares da música pop a partir de então. Força motriz e referencial.

Mas, quero falar de uma faixa da qual Wilson se orgulha de ser uma das suas melhores criações.

Sexta faixa, instrumental, com um time de bambas atuando: Al Casey e Barney Kessel, guitarras; Jim Horn, sax; Steve Douglas, sax tenor; Hal Blaine, bateria; Carol Kaye, baixo;Julius Wetcher, vibrafone;Lyle Ritz , baixo acústico; Al de Lory, piano

“Let’s go away for awhile”.

Em vários locais do mundo ela saiu como lado B do single de “Good Vibration”.

Maravilhosa canção (agora vem a babação de fã), daquelas que nos estimulam a imaginar paisagens e sensações gostosas (explicação tosca de fã).

Este tipo de melodia apresenta explicações tão simples para a paixão que nos desperta, que nos dá a sensação de que há algo oculto e que não entendemos por completo escondido entre suas notas.

Ecos do influente Burt Bacharach já admitidos por Brian Wilson em entrevista e evidentes ao escutarmos.

Não vou me enrolar em dar ares de ensaio nesta homenagem a uma canção.

“Let’s go away for awhile” foi gravada em 18 de janeiro de 1966.

Uma breve peça de beleza no meio de treze canções que o mundo sempre irá ouvir.

Esta semana tive duas boas surpresas em relação à mesma pessoa. Um cara do qual se falam coisas diversas há quase 50 anos. Chico Buarque de Holanda. Chico acabou de lançar um disco chamado Chico. Não ouço o Chico há muito tempo, sobre a obra dele não tenho nada de excepcional a dizer. Tudo já foi dito por bons caras como Tárik de Sousa, Pedro Alexandre Sanches, Luiz Giron e outros tantos competentes. Já ouvi e li quilos de exageros e leviandades sobre o Chico, tudo sem conhecimento de causa. Preço da exposição, da notoriedade, da relevância da obra.

Já há algum tempo, Chico vem mostrando mais entusiasmo pela literatura, Estorvo, Budapeste e Leite Derramado. A palavra sempre esteve com ele em letras de música, agora romances. Chico leva a vida até discreta. Dia desses foi “flagrado na praia” com uma moça, dizem, casada. Chico sempre foi o bom das moças. Na política, Chico nunca ficou em cima do muro, a despeito da cornetagem de direita ou de esquerda, ele sempre demonstrou claramente suas simpatias e antipatias.

Mas voltando às duas coisas que me levaram a admirar mais o Chico nesta semana. A primeira delas ouvi de uma pessoa próxima e insuspeita e ele me disse que Chico Buarque não aceita dinheiro público para bancar os seus shows, se for patrocinado só por grana privada. Nem sei se é verdade, porém, não tenho motivo, nem dados para duvidar do que a pessoa me disse.

A segunda coisa foi através  de um vídeo postado no site Ideia Fixa confiram no link e  também vou anexar abaixo. Chico ri ao lembrar-se das críticas recebidas em comentários de leitores numa reportagem. Chico leva na boa, não precisa de unanimidade. Em momento nenhum alardeia que a internet é um covil de fascistas, ele é um cara que não se indigna falsamente. Por outro lado um bando de oportunistas pega o mote das bobagens e fascismos escritos na internet, distorcem tudo e revertem num discurso policialesco sobre a própria liberdade na internet. Malabarismo feito por Ruy Castro ao comentar este mesmo depoimento sobre o Chico e trombetear sobre uma suposta “barbárie da internet”.  E barbárie depende de internet para se alastrar, seo Ruy?

Chico não tem nada a ver com isso. A despeito dos exageros cometidos por aqueles que querem transformá-lo em santo ou demônio. Com o passar dos anos, Chico continua um “bom cara”. Com suas falhas, contradições e esquisitices, claro, mas ele não se alinhou e não tem nada a ver com “determinados caras”.

E então cheguei aos 45. A gente não conta os dias distraído para chegar aos 45, vem tudo devagar, um após o outro, tudo bem sentido e faturado. Frase preguiçosa de dizer: ” tô ficando velho”, preguiçosa e mentirosa pois quem diz, olha ao redor e espera por outra frase, esta piedosa: “mas você esta super bem”.

Tempo, tempo, quando eu era menino os caras que tinham 45 eram já avôs, e claro, tem muito avô por aí com menos de 45. O fato é que passou, passou, e hoje aos 45 não sou nem pai, nem avô. Não é culpa de ninguem, senão minha.

Nasci no inverno, segundo a mãe numa madrugada de garoa, e foram 45 invernos. Alguns foram marcantes, outros passaram despercebidos, menos para mim, claro, descontando a pose blasé do “não ligo pra isso”, sempre marca. O afago de quem ja passou a jato pelos 45 e te chamo de menino, o desdém de quem vive a jato bem antes dos 45 e te passa a comenda de tiozinho, fácil, fácil. Resta o consolo da idade redondinha, metade de 90, faltam 5 para o 50, passam 5 do 40 e ainda 15 para o 60.

Nas contas frias são omitidas as vitórias e derrotas, estas complicariam o coeficiente e o redondo tomaria formas diversas, se complicaria em trapézios, octógonos, losângulos, triangulos, angulos, agudos e obtusos, pois é, até geometria (não dominada) para dar lírica aos 45.

São 16425 manhãs, tardes e noites.

Dentro de casa, longe de casa, em fuga de casa. De ressaca, de dor de corno, de autopiedade, de triunfo, de gozo, de arrependimento, de sono profundo, de sonho profundo, de atrasos, de comida boa, de espera, de furo, de desencontros, de descobertas,de gols, de bolas na traves, de escanteios …de 45 duzias de coisas que serão esquecidas para “sempre” e logo lembradas quando houver espaço de novo para elas.

Usar o bom humor para falar de aniversário é o clichê universal para os que acham 45, pouco, muito ou insuficiente. Mas vá lá, nascer no dia em que Debbie Harry nasceu, não no ano, já leva “state of art” ao nascimento…”Call Me” …

Tudo bem há 45 anos o Brasil dava vexame na Copa da Inglaterra, mas na própria, os Beatles lançavam a bolacha “Revolver” e brilham “For no One”, “Eleanor Rigby”, “Good Day Sunshine”, “Here, There and Everywhere”, “Tomorrow Never Knows”, que poderiam muito bem acompanhar as 45 velinhas do bolo em canção. E que homenagem, no dia 01 de julho de 1966, o Fab Four tocava ao vivo em Tokio, alucinando os japas.

Falando em 1966 e discos antológicos: Beach Boys (Pet Sound), Rolling Stones (Aftermath),  Cream (Fresh Cream), Kinks (Face to Face) , Small Faces (Small Faces), Phil Ochs (In Concert), Yardbirds (Roger, The Engineer), Buffalo Springfield (Buffalo Springfield),  Otis Redding (Soul Album), Tony Bennet (Movie Songs), Vinícius e Baden (AfroSambas), Bob Dylan (Blonde on Blonde), Frank Zappa (Freak Out),  13th Elevators (The Psychedelic Sounds of) e não vou parar nunca, pois o anos foi fecundo.

Como pano de fundo no ano que nasci brotavam hits no Brasil:  A “Banda” e “A Rita” (Chico Buarque), “Pede Passagem” (Sidney Miller), “Upa Neguinho” (Edu Lobo e Guarnieri), “Procissão” e “Roda” (Gilberto Gil e João Augusto), “Louvação (Gil e Torquato) “Canto de Ossanha” e “Tempo Feliz” (Baden e Vinicius), “Papo Firme” (Roberto e Erasmo), Negro Gato” (Getulio Cortês) …

Listas, listas, quem faz 45 pode enumerar uma infinidade delas: de regojizos, de redenções, de mancadas, de alívios,  de retornos, de idas, de ausências,  de dias memoráveis e de outros “esquecíveis”,  de quase amores, de amores, de nomes e lugares com quem conviveu e em que viveu. Decibéis ouvidos, páginas lidas e abandonadas, lugares, cidades, passagens inesquecíveis que viraram fumaça, carta, recados, memos, telex, fax, email, sms, bytes e átomos espalhados pela vida, palavras, tempo demais para atos e arrependimentos, considerações a respeito, reincidências… sem culpa.

Tempo insuficiente ainda e já o bastante para esquecer o que não interessa e forçar a lembrança do que não aconteceu (virá?). E claro, muito aconteceu. De evaporar no trabalho nesse dia, de querer inventar um divisor de água e descobrir, enfim, que foi mais um dia somado aos outros tantos. Mas que faz diferença, faz. Blefar para dobrar, abandonar o monte e  brigar pela vitória, sempre. Regojizo de ver a mãe e o pai, quase no dobro, 80, 84, irmã bacana de 54 ,e ter saudade do irmão que foi embora,cedo, aos 37.

Inventar um discurso para se orgulhar da calvície, depois de notar que cada fio caiu sem a menor consideração, de emagrecer e engordar ciclicamente e depois de anos e ainda ter de brigar. Tempo o bastante para reler livros já esquecidos e para dizer que ouviu aquela canção “moderna” há mais de 30 anos.

Tempo o bastante para dizer que ouvia “rock pauleira” e desprezava a “disco”, que quase foi ao Rock”n Rio 1, que se nutriu do punk  e da new wave, pós punk, gothic, new romantic, tecnopop, grebo, post rock, grunge, stone rock … todos os subprodutos inventados pelos “think tanks” da cultura pop.

Lembrar ao longe de que cantou em fila no pátio da escola, forçado, Hino Nacional, da Bandeira, do Soldado e eram tempos carrancudos. Menino, você brincava nas tardes dos anos 70 e via Vila Sésamo, Sitio do Pica Pau Amarelo, Shazam e Xerife. Você vê tudo em retrospectiva e tenta não suspirar e dizer frases de boas lembranças ou saudosismo embotado.

Tempo de conviver com a distensão, abertura, de ver e lutar por diretas já, de ficar alegre por poder votar com 18. E não esquecer que são 45 e que você já se frustrou tantas vezes com a política para depois voltar e começar tudo de novo.

Não dá para ignorar este dia, 01 de julho de 1966, há 45 anos, tanta gente que foi, que esta e que ainda virá que viram pedaços e poucos a completude desse trajeto. A canção, sempre a canção, Elvis Costello escreveu para marcar os seus 45 anos, peço emprestado ao rapaz, uso nos meus, tenho agora os meus quarenta e cinco.