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Arquivo mensal: janeiro 2009

Este blog não se propõe a ser uma agenda cultural, longe disso. Mas algumas coisas acontecem que não podemos ignorar. Depois de um tratamento para cura de câncer, Alfredo José da Silva, o Johnny Alf, volta aos palcos nesse final de semana.

Para alguns precursor, para outros fundador da bossa nova. Antes de tudo houve o violonista Garoto, mas isso é uma outra história… Avalio constantemente se interessa de fato esta genealogia. O cantor e a pianista se apresenta sábado e domingo no Sesc Vila Mariana. Os shows, além da presença de Alf e banda, contarão com as participações das cantoras Alaíde Costa, Leny Andrade e do saxofonista francês Idriss Boudrioua.

Este tipo de apresentação é uma grande oportunidade para experimentar o prazer de ouvir um dos artíficies da música moderna brasileira. Com suas harmônias sofisticadas e canções acima da média, Alf tem um estilo peculiar de cantar e de improvisar ao piano. O fato de ter fundado a bossa ou não, é irrelevante, sua obra tem peso e luz maiores do que isso.

Segue Alf cantando Rapaz de Bem ao vivo.

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No site oficial de Peter Murphy http://www.petermurphy.info/intro.html esta confirmada a vinda do rapaz para o Brasil. Preciso tomar cuidado, porque a última vez que anunciei um show aqui no blog  (o de Paul Weller) ele foi adiado. Murphy que fez história e fama cantando as irônicas canções “góticas” do Bauhaus traz para o Via Funchal, no próximo dia 14, uma retrospectiva da sua carreira.

Em sua carreira solo, Peter lançou nove albuns solos e um EP,  mora hoje na Turquia e é simpatizante do islamismo. Ele vai terminar a sua turnê mundial aqui na América do Sul, e será gravado um disco ao vivo em Buenos Aires (no Grand Rex Theater dia 11 de fevereiro). Aqui no Brasil, além do show em Sampa, dia 13 tocará em Porto Alegre.

Ano passado o Bauhas retornou com sua clássica formação – Daniel Ash (guitarra), David J (baixo), Kevin Haskins (bateria), além do próprio Peter na voz – para gravar seu quinto e proclamado ultimo disco  Go Away White. Houve até anuncio de uma tourné para promover o album, idéia abandonada logo depois do término da gravação.  Nesse ano Murphy promete  um registro em colaboração com Trent Reznor do Nine Inch Nails. Como vemos não se trata de um artista vivendo de fama pregressa.

Não sei se Peter Murphy foi a maior estrela do rock gótico como dizem, mas vi muita gente  dançando feito vampiro, nos buracos onde se ouvia música nos anos 80, ao som de Bela Lugosi ou pulando feito cabrito quando tocava a genial versão de Ziggy Stardust de David Bowie.

O fato é que Peter esta vivo e produzindo e esse deve ser mais um show com um monte de saudosistas na platéia (as vezes é necessário) e com alguém bem sintonizado nos dias de hoje em cima do palco. Ainda bem.

Logo que saiu do Bahaus em 1983, Peter juntou-se ao ex-baixista do Japan, Mick Karn e formou o Dalis Car. A mistura, apesar de bem legal, não decolou, chegaram a gravar um disco – The Waking Hour (1984) – e foi cada um para seu canto. Abaixo segue um registro ao vivo do Dalis Car na BBC  em 1984, logo depois Cuts You Up, cancão do album Deep (1990), gravada ao vivo na Califórnia no ano passado.

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Para começar bem a  semana de todo mundo, com bom rock and rol, mando dois registros  da banda inglesa Dr Feelgood. Os reis da cena pub rock, que deu base e sustentação etílica para que o punk surgisse. Sem vacilar, umas das bandas que mais gosto.

Vieram de Canvey Island, a oeste de Essex – região onde fica o delta do Tâmisa – no começo da década de 70. Doutores da simplicidade e espirito rock, seguraram a onda da molecada que queria ouvir rock and roll, dançar e se divertir, naquele momento histórico de ego trips e discos grandiloquentes. Rock de boa cepa.

Em 1975 lançaram o primeiro disco Down By the Jetty, uma gravação crua, direta, em mono, que empresta um charme especial ao registro. Recomendo, também, os albuns: Malpractice (do mesmo ano de 1975), e  Stupidity de 1976, gravado ao vivo.

Lee Brilleaux (voz e gaita),  great great Wilko Johnson (guitarra), John B. Parks (baixo), Big Figure (bateria). O som é um caldeirão de r&B, rock and roll, aditivos e sinceridade;  é ver, ouvir, e claro, se divertir. Reza a lenda que o guitarrista Wilko (excelente) se recusou a substituir Mick Taylor no Rolling Stones, preferiu seguir sua trilha em pequenos ginásios e pubs esfumaçados.

Segue uma versão de Roxette gravada no programa OGWT da BBC em 1975 e uma versão ao vivo, eletrizante, e redentora de You shouldn’t call the doctor. Rock and Roll.

Saiba mais sobre os caras: http://www.drfeelgood.de/index.htm,

Boa semana a todos!!

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Pedro Alexandre Sanches, paranaense de Maringá, é jornalista e escritor. Trabalhou na vaidosa Folha de São Paulo, e atualmente, assina uma coluna na revista Carta Capital. Escreveu dois títulos de muita qualidade sobre música brasileira: Tropicalismo: decadência bonita do samba e Como dois e dois são cinco, ambos pela Editora Boitempo.

O rapaz faz crítica musical sem arrogância (coisa rara) e sem reproduzir releases de produtos.

Para conferir seus textos acessem:

http://pedroalexandresanches.blogspot.com ou http://pedroalexandresanches.wordpress.com .

Abaixo segue entrevista feita com Pedro por email:

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k – Que história é essa de crítico?

pas – Pois é, que encrenca, não? O termo ultimamente me aflige, porque, com a configuração cada vez mais agressiva da cultura como indústria cultural, “crítico” também ficou cada vez mais parecido com um eufemismo para “divulgador”. Pode até ser um divulgador ao contrário, que divulga botando defeito no que divulga, mas não deixa de ser, mesmo assim, um divulgador. O que não tem nada de mau a princípio, mas é realmente estranho pensar que um jornalista, na função de “crítico”, recebe um determinado salário de seu patrão para fazer propaganda dos empregados de outros patrões. Não parece haver algo errado nesse percurso? Eu acho que tem, tanto é que, na minha opinião, a coisa não tem andado muito bem. Porque as coisas vão perdendo a graça (ou então ficam cínicas demais) conforme o sentido da palavra “crítico” se deforma, seja na exasperação do sentido negativo do conceito “crítico” (que credibilidade pode ter alguém que só encontra os “defeitos” dos objetos que admira, supostamente, por amor?), seja na entrega total ao sentido positivo, explicitamente propagandista, do conceito (quem pode acreditar para valer nas opiniões de alguém que propagandeia que tudo está o tempo inteiro cor-de-rosa?). Dá vontade de voltar à idade da pedra polida, ou viajar para algum tempo simbólico em que “criticar” fosse meramente refletir, analisar, pensar junto – o que, evidentemente, não tem (ou não deveria ter) nada a ver com a tiragem do jornal, a necessidade diária de sensacionalismo nas bancas e assim por diante.

k – Essa é uma pergunta, creio, de muita respostas, em que momento (s) a música chegou em sua vida?

pas – Se fosse para resumir, diria que chegou por intermédio da minha irmã mais velha, Myriam, que hoje tem 53 anos, e ouvia MPB apaixonadamente quando era adolescente e jovem. Eu sou 13 anos mais novo que ela, e quando pequeno interagi intensamente com os gostos dela, fosse fazendo muxoxo (como fazia diante da fissura dela por Elis Regina), fosse copiando os gostos dela (com oito ou nove anos, comprei por exemplo “Rafavela”, do Gilberto Gil, ou “Gal Canta Caymmi”, acho que por puro instinto de imitação), fosse ainda expressando algum grau de rebeldia (ela, por exemplo, desprezava solenemente a Rita Lee, e eu amava). Agora, saindo do âmbito caseiro lá no interior do Paraná, não há como eu não admitir que o que moldou os meus interesses foi, mesmo, um monstro de sete cabeças chamado Rede Globo. O primeiro LP nacional que eu tive foi de Baiano & Os Novos Caetanos, banda de proveta dos programas do Chico Anysio. Até o fim da adolescência, e em parte devido ao alinhamento total da minha cidade (Maringá) com a indústria cultural liderada pela Globo, praticamente só consumi trilhas de novelas e astros pop norte-americanos propagandeados na TV (tipo Bruce Springsteen, por exemplo). Meus sentimentos em relação a isso são ambíguos até hoje. Em parte são alguma espécie de vergonha, por reconhecer como eu era (sou?) dramaticamente robotizados por gostos padronizados (e, repito, ainda que fosse pelo viés “rebelde”, como quando assistia ao “Globo de Ouro” e odiava apaixonadamente alguns dos artistas que a Globo martelava, como – olha só que loucura – Jorge Ben, Roberto Carlos e Tim Maia). Por outro lado, outro dia mesmo estava assistindo ao “Sítio do Picapau Amarelo” dos anos 70 (que a Globo, sempre ela, relançou em DVD) e, meu Deus, que choque ouvir a música incidental composta pelo Dori Caymmi e constatar que aquilo era genial, maravilhoso, de uma qualidade assustadora. Sinto o mesmo quando ouço hoje em dia meus velhos vinis (& MP3) de Baiano & Os Novos Caetanos e (re)aprendo que aquele samba-soul inventado por Chico Anysio, Arnaud Rodrigues, Durval Ferreira, Orlandivo, Azimuth etc. era… bom pra caralho!!! Quanto ao “Globo de Ouro”, putz, acho que basta dizer que desde os 18 anos de idade meu ídolo máximo se chama Jorge Ben… Ou que aos 36 anos publiquei um livro sobre Roberto Carlos…

k – Explique o que é MPB e o que não é MPB?

pas – Nem sempre eu costumei refletir sobre isso, mas hoje em dia penso que MPB é um termo fundado principalmente em preconceitos. Não sei quantificar quanto disso é responsabilidade de artistas da “casta” agraciada com o rótulo, ou quanto é da imprensa que os rotula, mas parece evidente que esse rótulo serviu mais para elitizar certas camadas da música que para qualquer outra coisa. Nos anos 70, depois que “MPB” se consolidou como música de extração universitária destinada a consumidores idem, foi sendo criada uma infinidade de compartimentos – Caetano Veloso era MPB, mas Clara Nunes não (era samba), Maria Bethânia era acolhida com status maior que Martinho da Vila (idem), e assim por diante. Se a gente prestar atenção no que tem acontecido em anos mais recentes, vai ver facilmente que aquilo que nos acostumamos a chamar de “MPB” virou a parte mais isolada, confinada e desconectada da realidade do asfalto (ou das favelas, ou dos interiores). Paradoxalmente, o termo “popular” ficou sob a propriedade do pessoal mais isolado (feito os fregueses de um shopping ou de uma Daslu ou os moradores de um condomínio blindado, um condomínio chamado “MPB”, ou bossa nova, ou…), não do Zezé di Camargo & Luciano, ou da Banda Calypso, ou do hip-hop. Não me parece muito coincidência que hoje grande parte da “nata” da MPB, de Chico Buarque a, ops!, Rita Lee, esteja lançando discos pela gravadora Biscoito Fino, que é sustentada por um banco. Tudo isso é classe “alta” e “média” pra caramba, não é mesmo?

k – Letra de música ainda tem importância?

pas – Nossa, que amplo. A letra não foi importante para Beethoven como não é para a dita música eletrônica dos anos 1990. E foi importante para a MPB como é para o funk carioca ou o hip-hop paulista. Quero dizer, tudo cabe, e tudo leva a crer que vai continuar cabendo… Acho que às vezes a gente discute à beça isso, se a canção acabou ou não, ou se o tecno matou as “lyrics”, mas me parece um pouco um deslocamento, porque o que está sob xeque-mate, muito mais que letra & melodia, é aquele suporte industrial de que eu falava na minha primeira resposta. Então eu lhe devolveria a pergunta, reformada: qual é a importância da indústria musical na música de hoje?

k – Qual o “disco” que ainda não foi lançado ou que jamais será?

pas – Hehehehe, dizem os arautos (do apocalipse, alguns deles) que no futuro NENHUM disco jamais será lançado. Será que estamos preparados? Como os “críticos” criticarão discos quando não existirem mais discos?

k – Fale o que você quiser…

pas – Vixe! O que eu diria, meu Deus do céu? Já sei. Tenho aqui à minha frente o novo número do “Unidade”, o “jornal dos jornalistas”, que acabou de chegar à redação. Na capa tem um monte de capas de jornais de antigamente e o título: “Onde foi parar a nossa imprensa alternativa?”. De cara, eu responderia a eles o óbvio, que a imprensa alternativa está todinha na internet (ói nós aqui). Mas aí abro o jornal e vejo as capas colocadas para ilustrar o texto, capas do “Movimento”, do “Pasquim”, do “Opinião” etc. etc. etc. E, de fato, dá uma saudade do que não vivi (lá de Maringá, nunca li nenhum desses veículos, exceto alguns exemplares do “Pasquim” – outro “objeto cultural” que minha irmã cultuava)… Se formos pensar em imprensa alternativa sobre música, então… Puxa vida, será que fariam sentido coisas assim hoje em dia? Daria para a gente se desindustrializar e desvirtualizar o suficiente para meter a mão na massa em prol desse tipo de brincadeira? Alguém compraria? Ou melhor, alguém gostaria? Pronto, transformei pergunta em outras perguntas, de novo… Será verdade que jornalistas gostam mais de perguntar do que de responder?…

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Valeu Pedro!!!!

Estou lendo, e recomendo, o livro do jornalista Humberto Werneck:  O Santo Sujo – A vida de Jayme Ovalle (Ed. Cosac Naify), leitura fluente e agradável, lançado em agosto de 2008.

Paraense de nascimento, funcionário público, compositor bissexto, poeta sem obra impressa, mas antes de tudo uma figura carismática. Amigo de Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Augusto Frederico Schmidt…entre tantos, Ovalle bagunça a lógica de todo catalogador que queira enquadrá-lo em uma área específica. Nesse caso pode-se usar o velho clichê de que ele fez de sua vida a própria obra.

O grande barato é correr atrás do lançamento na biblioteca pública (se não achar, exija a compra, direito e dever de cidadão), livrarias, onde puder. Para saber mais sobre o livro acesse:  http://www.cosacnaify.com.br/noticias/flip2008/osantosujo.asp.

Abaixo o violonista e professor norte-americano Douglas Nieldt executa uma das composições de Ovalle em parceria com Manuel Bandeira, a modinha Azulão, que foi gravada por Nara Leão.

Azulão

Vai, Azulão, Azulão
Companheiro, vai
Vai ver minha ingrata
Diz que sem ela o sertão
Não é mais sertão
Ai, voa Azulão
Vai contar, companheiro, vai

Ovalle com Otto Lara Resende e Vinicius de Moraes.

Da esquerda para direita: Ovalle com Otto Lara Resende e Vinícius de Moraes.

No início de 2009 passou despercebida uma grande perda. Trata-se do radialista Fausto Canova, que faleceu no dia 03/01. A notícia foi praticamente ignorada pela  imprensa, eu mesmo soube através do blog do Airton  Mugnaini Jr: http://ayrtonmugnainijr.blogspot.com/2009/01/fausto-canova-19332009.html , seu nome merecia maiores reverências.

A morte de Fausto Augusto Battistete  simboliza o fim de um jeito de fazer rádio.  Ele era um radialista que se envolveu com a cena musical brasileira em momentos capitais, escrevendo, divulgando e ajudando a fazer história. Seus programas deixavam esta experiência evidente. Os tempos são outros, a rádio vai se esvaziando numa fantasiosa “objetividade” jornalística e o resultado disso é terrível.

A historia do casamento de Canova é lapidar e reforça o seu envolvimento completo com o rádio. Sua esposa,Sonia, curtia os programas apresentados pelo radialista  na Rádio Bandeirantes, e através de um amigo que lá trabalhava, conheceu em carne e osso a voz cultuada. Casaram. Ela o acompanhou  a vida toda, até faleceu há quatro anos.

Nos ultimos anos, mesmo sofrendo de Alzhaimer, ele apresentava e dirigia o programa Estúdio 1200 na Rádio Cultura AM de São Paulo. Nesse programa  mesclava entrevistas, notícias sobre o mundo das artes e uma programação musical ímpar, principalmente se comparada a pasmaceira vigente nas rádios. E foi assim em sua carreira toda.

Procurei registros da voz de Canova pela web e não achei, pasmem, não achei ao menos uma foto dele sozinho, retrato do descaso sobre a história de um homem que como poucos respirava rádio. Quando eu achar algo anexo nesse post. Lamentável.

Fausto Canova  1933 – 2009

Dois tempos : Jefferson Airplane no auge da flower power e Damned, passada a fúria, procurando identidade no pós-punk.

White Rabbit homenageia toda a “acidez” de Lewis Caroll:

When logic and proportion
Have fallen sloppy dead
And the White Knight is talking backwards
And the Red Queen’s “off with her head!”
Remember what the dormouse said;
“FEED YOUR HEAD”


ja-1 damned1