Meu pequeno Cachoeiro (Roberto e Sergio)


Roberto Carlos de Cachoeiro de Itapemirim completa hoje 72 anos. Roberto Carlos é um dado inescapável do imaginário pop brasileiro. Quando eu tinha 5,6 anos no início da década de 70, ouvir Roberto Carlos era uma extensão dos mais prosaicos hábitos do cotidiano. Todo mundo citava letras do rei, usava gírias ditas e tiradas das músicas dele. Namoros, brigas, saudades de família tinha condimentação do rapaz da jovem guarda.

Dias atrás outro cantor nascido em Cachoeiro fez aniversário, ou faria, se aqui entre nós ainda estivesse, Sergio Sampaio nasceu no dia 13 de Abril de 1947, portanto 6 anos mais jovem que o rei. Sergio nunca atingiu o estrelato, não fez parte do restrito espaço de ídolos pop brasileiro, de alguma maneira a maioria que o conhece lembra de uma música, composta e gravada em 1972, e ela dizia assim:

Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender

Claro que não vou precisar colocar aqui qualquer trecho de letra de Roberto para lembrar quem ele é…

Tanto Sergio como Roberto saíram, em momentos e épocas diferentes, da pequena Cachoeiro para o Rio de Janeiro. Roberto queria a bossa nova, usou terno e violão para tentar ser clone de João Gilberto, nunca desistiu e após ser o rei da Jovem Guarda, atingiu o estrelato para não sair mais da vida dos brasileiros. Roberto desenhou sólida carreira, com todos os percalços e contradições de quem chega no topo, alvo permanente.

Sergio na sua viagem aportou na orla carioca para espalhar a sua mistura de referências pós tropicalistas, rock com o samba e choro (legado do pai, também compositor, Raul Sampaio) que nunca saíram da sua retina. Junto com Eddy Star, Miriam Batucada e Raulzito (um dos seus ídolos) gravou o Sociedade da Grã Ordem Kavernista, um disco inclassificável pelos artistas dificilmente enquadrados que dele participaram. Após, ele seguiu numa errática carreira sacrificada pelo álcool e demais desbundes, mas que deixou canções e álbuns brilhantes.

Comemorar Roberto Carlos é também não esquecer Sergio Sampaio. Sergio era fã de Roberto e morreu em 1994 sem satisfazer a vontade de ter uma canção gravada pelo famoso conterrâneo.

Roberto Carlos chega em 2013 como um ídolo cansado, que canta banalidades e cede às facilidades do preguiçoso entretenimento. Disco de final de ano, especial da Globo e pouca exposição. Seu trabalho atual é protocolar e auto referente, mas Roberto tem um forte caldo acumulado, três dezenas de canções inesquecíveis, que volta e meia seduzem caprichosamente novos ouvintes. Um clássico.

A lembrança de Sergio Sampaio chega em 2013 como um dos integrantes de uma duzia de malditos que legou canções e rebeldia, que marcou posição em defesa da sua integridade, e que levou no corpo a sua arte completa, e essa foi tão forte que o corpo não aguentou o tom. Sergio volta e meia é lembrado, exaltado e na sua coerência ainda não é enquadrado.

Esses dois rapazes de Cachoeiro do Itapemirim, Espirito Santo, colocam o mês de Abril na história da música brasileira, pela sombra da lembrança ou pela luz ofuscante do esquecimento.

rcss

2 comentários
  1. NILTON DE SOUZA MORAES disse:

    SOU PRIMO DE SERGIO SAMPAIO,NILTON DE SOUZA MORAES

  2. NILTON DE SOUZA MORAES disse:

    TIOS RAUL GONÇALVES SAMPAIO E MARIA DE LURDES MORAES

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